quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Precisamos falar sobre precisamos falar



Pois é meus caros, mudei. Todos mudam, e eu mudei muito mais do que previa, do que queria. Acontece que não fui totalmente sincero com vocês no meu último lampejo na interwebs, falei que muitas coisas haviam acontecido na minha vida, umas mais relevantes e outras menos, porém não citei o mais importante. Aquilo que me fez mudar.

Tudo começou em uma segunda-feira de outubro de 2015, fui passear com meu saudoso totó, o velocista do Jardim Fortaleza, Sansão. Lembro bem do dia, porque eu não podia faltar na faculdade de jeito nenhum, já que eu estava no limite das faltas possíveis naquele semestre.

Há alguns dias eu já estava sentindo um incômodo na nuca, um peso, como se alguém estivesse sentado nos meus ombros e não quisesse sair por nada, já estava esperando olhar meu reflexo e ver a garota do filme Espíritos sentada no meu ombro.

Mesmo sendo muito cedo já estava bem calor, o céu não tinha nenhuma nuvem, e eu pensei – “vai sansão, termina logo que eu quero voltar pra casa”. Mas ele insistia em não se interessar por um postezinho sequer para se aliviar, o tempo foi passando, e do peso de uma menina, o incômodo passou a ser como se o senhor Barriga estivesse querendo assistir ao novo filme do Hector Bonilla nas minhas costas.

O incômodo virou uma dormência, um formigamento. Senti uma taquicardia, senti um calor na cabeça. Pronto, o circo estava armado, a certeza da pressão alta já se estabeleceu e o desespero de faltar na faculdade e pegar um DP pra ter que ir ao médico piorava exponencialmente a situação. Abreviei o rolezinho matinal do Sansão que, me julgando profundamente, subiu as escadas do prédio e foi direto choramingar na sua cama.

Fui direto pro hospital para tomar um remédio e correr pra minha aula de sei-lá-o-quê jornalístico. Doce ilusão, todas aquelas sensações agora eram perturbações, já tinha certeza que estava tendo um derrame, e que minha vida sedentária dos último cinco anos estavam cobrando a conta muito antes do que eu imaginei. Dei entrada no PS já pedindo um eletrocardiograma, até porque eu já estava pensando na cor do caixão, me examinaram, fizeram o eletro, e veio a notícia: Você está bem! Vá para a recepção e aguarde o médico chamar.

Malditos enfermeiros preguiçosos! 

Não é possível que vejam uma pessoa nesse estado e achem que está tudo bem, minha etiqueta já estava pronta pra pendurar no dedão e entrar numa gaveta 3XG no necrotério. Minha certeza aumentava junto com um formigamento que se espalhava pelo meu corpo, perdi a força nas mãos, já não conseguia respirar decentemente, e nesse ponto qualquer bom senso foi pelo ralo. Levantei, invadi a sala do médico e anunciei minha morte iminente.

O doutor, dividido entre o receio de quem teme a própria vida e a calma de quem vê disso todo dia, me pediu cinco minutos para terminar de atender à pessoa que estava só de sutiã dentro da sala, e que eu não havia notado até então.
Eu como ser humano perto da morte, fiz o que qualquer pessoa de bom-senso faria. Fiquei encostado na porta, na esperança que quando eu perdesse o último suspiro de vida, faria um barulho tão alto que o médico viria pelo menos para atestar minha morte antes do corpo começar a feder.

Quatro horas e meia depois, pelo menos para mim, uma mulher constrangida abre a porta do consultório, me olha de canto de olho e acelera no sentido contrário. Eu entro no consultório esperando encontrar um carro de reanimação à postos. A despeito disso, encontro apenas um clínico geral entediado que me manda sentar e fala: “Você está tendo uma crise ansiosa!”.

Não sei exatamente quanto tempo se passou, mas senti um misto de compreensão e revolta ao mesmo tempo. Faz sentido, minha família inteira sofre disso, minha mãe sofre disso, mas eu não, eu sou o saudável! Isso jamais aconteceria comigo, por que eu ficaria ansioso? Por que eu demonstraria essa fraqueza? Não combina comigo!
Apesar de toda essa batalha interna, a notícia foi o bálsamo sagrado que me levantou da iminente viagem ao túmulo, o formigamento dissipou de imediato, recobrei a sensibilidade nas mãos e minha respiração aos poucos voltou a normal. O meu herói de jaleco branco me receitou o bom e velho diazepan e me mandou dormir o resto do dia.

Acho que está gigantesco, juro que termino o mais breve possível.


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