terça-feira, 26 de novembro de 2019

O mais breve que eu pude

Era esse o jeito que eu queria que fosse minha morte nos meses seguintes. Mas calma, tenho que contextualizar.

Semanas depois do meu fatídico episódio no já falecido Hospital Bandeirantes, no bairro da

Liberdade em São Paulo, toda vez que eu sentia um pequeno indício de formigamento na nuca, já me irritava e falava pra mim mesmo: "Parou! Chega de frescura que você não tem nada que ficar passando mal a toa, isso são só suas glândulas querendo tirar férias quando não podem!".

Isso até que funcionou por um tempo, mas veja bem, se você não tira férias o seu corpo tira pra você. Não adianta brigar com seu cérebro, ele é muito mais treinado para se auto preservar do que nós imaginamos. É como se eu estivesse segurando uma pilha de pedras enorme, bastava um sisco. um brisa, um espirro de um filhote de pug para que tudo desmoronasse. E ele veio.

O nome desse espirro era 2016, e trouxe com ele um ótimo pacote de novidades. Perdi de uma vez meus melhores amigos no trabalho, as pessoas com quem eu mais conversava, mas calma que eles não morreram, só foram promovidos. O trabalho dobrou por conta da mudança de tarifa do Metrô, e além disso os passageiros estavam enfurecidos porque a empresa que fazia recarga de bilhete único rompeu contrato e deixou todo mundo na mão. Isso tudo só no dia 2 de janeiro. Lembro de acordar duarante a madrugada naquela semana pensando que eu não tinha deixado troco suficiente na bilheteria, e tentando me acalmar falando pra mim mesmo que eram três da manhã e eu não tinha que me preocupar com aquilo agora.

Além disso eu estava tentando terminar a faculdade, e meu casamento seria em nove meses, ou seja, o circo tava montado, e o palhaço já tava preparando o sapato pra chutar a minha bunda. Mas não se engane, eu não recebi um telegrama avisando que meu sistema límbico iria entrar em greve e que eu deveria buscar ajuda, não é assim que funciona. Na verdade é mais como um caçador de recompensas que vai te cercar pra sempre, mas sem nunca te capturar e te congelar na carbonita.

É como se seu corpo ativasse um sensor aranha do mal, eu passei a sentir todas as sensações possíveis, e quando eu falo todas, são todas mesmo! Durante o dia meu estômago ficava se mexendo como se um facehug tivesse implantado um ovo em mim. Durante o almoço eu ficava com enjôo só de pensar em comer. Na hora de ficar na bilheteria vinha a falta de ar e a sensação de enclausuramento. E todas essas sensações aumentadas mil vezes. A noite meu cérebro virava um monitor cardíaco, assim que colocava a cabeça no travesseiro os meus batimentos começavam a ressoar nos meu ouvidos e eu conseguia medir minha frequência, mas é claro que parecia que eu estava com arritimia né.

Caminhar se tornou um suplício, sentia dores no peito e fraqueza nas pernas o tempo todo, crente que eu estava infartando aos poucos, passei a evitar sair de casa, porque é foda ser resgatado no meio da rua depois de ter um ataque cardíaco. E não se esqueça da pressão alta, ela estava lá, por mais que toda vez que eu medisse ela teimasse em se esconder, ELA ESTAVA LÁ!

Acho que deu pra resumir bem a primeira frase do texto né. Pois é, eu já tava pensando no seguro de vida que a Amanda receberia. Em um dos meu surtos fui parar novamente no hospital e o plantonista me falou que eu estava com um quadro de ansiedade e precisava procurar um psiquiatra com urgência. Lembro de ficar sentado na cadeira da espera do lado de fora chorando e pensando em que momento eu havia sido derrotado pela vida. Como eu pude falhar desse jeito? O que eu deixei de fazer, porque eu tinha deixado esse mal me tomar?

Nesse momento entra uma figura fundamental nessa história, mas vou falar sobre ela no próximo texto.












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